Estava em “Vale de Gaios”, lembrando-me do sinal que vi uns metros antes de entrar na aldeola. - Que apropriado… – Deixei escapar num tom auto-comiserativo, pois só um gaio (espécie de ave) pensaria em cá parar. O calor ainda se fazia sentir e precisava agora de reforçar energias se queria chegar antes da meia-noite. Dirijo-me ao café (taberna), que tirando o cruzeiro, era a edificação que mais se destacava naquele largo. A madeira torcida e remendada da tabuleta escrevia em relevo, outrora guarnecido com tinta branca, “Casa de Pasto – Os Três Tios”. A porta, uma composição de tábuas grossas e escuras, estava escancarada e lá dentro o ar era fresco, convidando a ficar por mais tempo que o inicialmente previsto.
Falei com o serviçal ao balcão e pedi-lhe por direcções. – Então o J. disse-lhe isso?! – referindo-se à destruição do acesso à nacional. – Vê-se me’mo que nunca sai daqui. – exclamou ironicamente. – Aquilo ‘tá amassado, porque o fogo não perdoa, ma’ na tá que na’ se possa. – Era o que estava a precisar de ouvir… – Pêra aí – interrompeu ele. – Pa’ um carrito como o seu aquilo é capaz d’ na’ passar. – Quem não sai daqui sou eu. – Pensei com alguma irritação para os meus botões. Voltei para o carro e tomei direcção inversa. Se por acaso se perder pergunte pelo Flores, porque aqui todos me conhecem – Ouvi ainda à saída.
As árvores tentavam fechar a luz alaranjada que irradiava do sol poente e uma brisa fresca alimentava o meu respirar. Expirava também um certo alívio por já estar fora daquela pitoresca aldeia, não que parecesse desagradável, no entanto, detinha um certo ensombro, como se devesse permanecer escondida do tempo. Enclausurada no passado.
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