sábado, 26 de setembro de 2009

A Prisão de Vidro

Olá espelho, meu velho amigo, que bom é ver-te de novo...

Eu sorrio, mas tu olhas-me desaprovador. Censuras-me por fugir fora do ornato, em que sempre me prendeste e do reflexo de que me ensombraste. Apraz-me dizer velho amigo, da vida que fizeste tua e que agora voltou a ser minha: Aurum nostrum non est aurum vulgi.

Perdeste-me para o sorriso que passeia livre em mim, que não é mais do que sempre foi para ti. Do breu para a luz bastou-me levitar sobre as estrelas e ver-te assim, exíguo e fútil no fim.


Olá, meu velho amigo, lamento ver-te de novo...

Sorris, sôfrego e falso, prestes a afogar-te num mar de lágrimas. Eu olhei, perscrutei no teu âmago: não mudaste e desapareceste para voltar. Tentas escapulir-te do garrote e levanta-lo para outros verem uma auréola. Não é de mim que precisas, pois não te posso mostrar mais objecto do que sou.

Olha para ti: a tua desgraça pede uma faca aguçada. Confronta-me, ainda que usá-la em mim só macule a tua figura. Desfaz as amarras e afia a tua alma... regressa translúcido e transparente para que nunca te volte a ver.