sábado, 28 de junho de 2008

Dias De Um Futuro Passado

Dias há em que urge abordar cada situação como se estivesse a falar para uma plateia ansiosa pela próxima anedota: “É assim malta” (…) “episódio da vida real disfarçado de tragédia grega” (…) “sarcasmo que contrasta com a auto-indulgência”, ficando o final encarregue do fantástico “orgulho dependurado no limiar da ignomínia”. De repente sou socialmente aceite, as pessoas riem e eu acompanho-as dizendo cá para mim que como não tenho vergonha da ineptidão, serei uma espécie de super-homem, acima de qualquer juízo.

É suportável viver como um bicho estranho, não vejo reacção, peço antes respeito. Eis que surge o cruel cogitar do dedo indicador, directamente apontado à persona. Não há respeito, antes indiferença e o delicado tratamento das luvas de veludo que veda todo e qualquer calor humano.


Sou culpado de fugir aos lugares comuns até mascarar os meus de uma humanidade que nunca quis ter. Sentencio-me à miséria de uma guerra comigo mesmo, que levo a cabo desde que ganhei consciência. Como em todas as guerras há decisões a tomar, decisões que surgem sem aviso e com total desrespeito pelo que estava planeado, é aí que custa adaptar e moldar os nossos objectivos ao real.


Ocorreram-me centenas de ideias e frases para adornar este texto, quis escrever sobre a felicidade, sobre a realidade… queria uma visão autêntica de tudo isso. Perdi-me em memórias de dias perfeitamente iguais a este, com aquele traço ideal que é conferido às evocações do passado, tão perfeitas e etéreas na sua história já contada.


Estou a escrever sobre assuntos que quero viver, que outros os vivam. Estou a rir-me sozinho de uma anedota que ninguém percebeu, indiferente a qualquer juízo.