Mais tarde, contou-me que o estabelecimento de que lhe falei havia ardido no mesmo sinistro que acabou com a aldeia. Ainda, esse café, desaparecido hoje era explorado por ela e pelo marido, que coincidentemente ou não, correspondia à descrição do homem com quem falei antes. Essas palavras marcaram-me – Nunca acreditei quando falavam em assombrações nesse sítio, mas um lugar desses, amaldiçoado por Deus, não volta a ter descanso… e a nós, que de lá escapámos, o vai tirando. Cada vez que recordo isto arrepio-me copiosamente, mas não por ter medo de fantasmas ou assombrações. É algo pior. Aquele lugar pareceu-me tão autêntico e continua tão vivo na minha memória que não consigo dizer o que é realidade ou imaginação. Vi os destroços da aldeia e fui até à Vila nova para ver que era bem diferente do que “sonhei”, só o cruzeiro tinha sido aproveitado. O velhote que o empregado do café chamou de J. e que primeiro me avisou da estrada cortada era tão real… que contrastava com as duas habitantes da Villa Flores, aquelas duas almas que perderam o seu mundo no incêndio, isoladas de tudo e de todos, numa solidão doentia.
Sei que todos têm uma história com o seu quê de sobrenatural para contar, sobre alguma situação por que passaram e nunca conseguem explicar totalmente. Até é comum empolgarmo-nos e acabarmos por atribuir o inexplicável a um fenómeno místico qualquer, mas as melhores histórias (e acho que esta é uma delas) são aquelas em que a diferença não é tão óbvia assim.
Sei que todos têm uma história com o seu quê de sobrenatural para contar, sobre alguma situação por que passaram e nunca conseguem explicar totalmente. Até é comum empolgarmo-nos e acabarmos por atribuir o inexplicável a um fenómeno místico qualquer, mas as melhores histórias (e acho que esta é uma delas) são aquelas em que a diferença não é tão óbvia assim.