A sala do trono: o Rei
Peguei na espada, empunhei-a e procurei despedir-me da minha existência como até hoje a conheci… não fui capaz: tinha sido avassalado pelos argumentos do Rei, mas no fim, o meu corpo não se curvava perante ninguém, nem pela minha consciência. O Rei, furioso com a minha inépcia, pega na espada dele e prepara-se para degolar a rapariga.
– Mais uma vez abusas da minha contemplação, mas até tu saberás que a paciência de um monarca é curta. E puxa o corpo para trás como se procurasse conferir ao golpe a implacabilidade mais do que certa.
Se era o espaço que não valia o mesmo nos dois lados do espelho, não encontro lógica para explicar os eventos que tiveram lugar de seguida: revoltado com tamanha injustiça corri a distância que nos separava e investi sobre o déspota; cego de raiva, nem fiz caso de uma possível retaliação. Enterrei a arma pelo peito do Rei e derrubei-o sem hesitação.
Já se espalhava o sangue pelo chão quando lhe vi a cara; o meu semblante sem vida estava caído entre o manto carmesim e o chão dourado: teria acabado com a minha vida numa realidade diferente? Seria o Rei a minha pessoa ou vice-versa? Procurei dissipar as minhas dúvidas através da ninfa, isto é, se ela fosse diferente da que conheci antes, provavelmente estaríamos no mesmo plano existencial, caso contrário, tinha acabado de me matar a mim mesmo.
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