As luzes brilhantes e o encanto da noite tornaram-se na nossa pista de dança, parceiros, confidentes e por fim co-dependentes. Contigo senti-me invencível, capaz de pegar no mundo e parar a sua órbita, mas era tão divertido continuar a girá-lo. Perder os sentidos e saber que acordava ao teu lado, fingir que a tua casa era nossa e adormecer na alcatifa. As 20 eram o nosso meio-dia e tu, uma bailarina em preto e branco dançando no arco-íris de néon, voaste no escuro passeando entre flocos de neve do branco mais pálido.
Intoxicado com esse ser opiáceo, falhei em perceber a tua lucidez, acreditava-te mais alucinada que eu. Os ataques de fúria, a montanha russa de humores e a mania da perseguição eram senão apelos vindos das profundezas de um lado indomesticável, puro e nuclear que te tornava tão encantadora. O desejo carnal passou a ser a nossa moeda de troca numa economia em recessão. As cores do teu bailado tornaram-se numa sombra negra deslizando numa linha branca que termina num voo directo para o abismo.
As estações passaram e a noite eventualmente transformou-se no amanhecer violento em que o sol dilacerava as janelas do que tu poupaste à minha alma. A sala acabou por parar e desistir da órbita em que nós a fizemos girar. Fui para uma casa minha e nunca mais te vi. Até um dia… em que nos encontrámos por acaso. Estavas cintilante e provocante, magnifica na forma e na textura. Como sempre não quiseste saber de mim, mas pela primeira vez deixei que outro coitado contasse os teus últimos passos na marca branca. Tu sabes… naquela estrada que vai para lado nenhum.
If you wanna hang out you' ve got to take her out - J.J. Cale