Numa noite amena de Outono um grupo de pessoas despede-se e parte para o abrigo das suas viaturas. Aguardam trinta Quilómetros de asfalto. A atmosfera é tensa e o a magnetismo faz tremer o seu âmago. Uma frustração e uma raiva interior despertam e geram o temor. As portas fecham e as explicações começam.
Sinto que o turbilhão de emoções se adensa. A voz da consciência jaz dormente em mim. A velocidade aumenta e o cobertor de cimento voa esgotando-se em diante, enquanto o ponteiro sobe nas centenas. É reconfortante sentir o controlo e desafiar os seus limites, a máquina obedece e não falha de bem mantida que está. O bólide não lamenta o esforço e ruge contra o vento.
A concentração pesa no semblante e a consciência fala-me ao de leve, enquanto sofre com os devaneios febris induzidos pelos tais Jokers da vida, aquelas cartas inesperadas que podem dar ou tirar tudo num instante. Patético é quando estamos de joelhos perante o adversário e não reconhecemos o prejuízo. Os ecos da razão esbatem na couraça da paixão e o ponteiro caminha cego para o vermelho.
Sem me confrontar com limitações, o bom senso reflecte em mim a personagem do filme Vanishing Point, Kowalski, o piloto destemido que corria contra o destino e encontrou a sua morte. Cego, surdo e obcecado com uma velocidade transcendente que lhe mudasse o rumo à vida, também eu fugia de tais demónios, ainda que na realidade os perseguisse. Com esta simples alegoria caí no rídiculo e vi que tinha atingido o limite, estava já no vermelho das minhas rotações.
Ainda a tremer, acalmo gradualmente e escolho dar ouvidos à razão. Aceitei o prejuizo e paguei-o sem que isso me custasse tudo do que amealhei até agora. A velocidade mata quando o carro não oferece segurança, daí que quando chegamos ao vermelho é sempre bom saber que não precisamos de o ultrapassar, nem de travar a fundo. Sem comprometer a viagem, encontro conforto na ideia de que o destino esperará por nós.
O elenco:
Eu - Kowalski
Consciência - Super Soul
Ela - As herself
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