segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O Filho Pródigo

Algures nesta noite escura chove numa estrada deserta que termina numa bifurcação. Dois caminhos, sem certezas. Arrisco. A vida parece um jogo que só acaba quando perdemos tudo e, não é verdade que até acabamos sempre de bolsos vazios? Podemos querer parar, mas o jogo continua e a parada sobe.

Percebo agora que nunca tive fundo para levar a aposta até ao fim, de facto, cheguei mesmo a desistir. Algures numa noite de chuva o destino entra pela porta grande e não me mostra as cartas, mas oferece-me material para ir a jogo. É teu, aproveita – parecia dizer-me. Porque haveriam as altas instâncias de financiar um tipo que vai perder? Porque quando se joga alguém tem que perder. Mas as minhas cartas são tão boas. E as do outro?

O relógio não para e a janela de oportunismo fecha-se. Chamam por mim o prémio e a audácia. Aqui estou eu preparado para ganhar e perder tudo em mais uma demonstração de subjectivismo. Não tornarei a casa para viver na glória.

Assalta-me a reflexão de quão decadente é submeter uma vida a este risco, sem graciosidade, desprovido de classe. A falta de controlo emocional que vem com o jogo e que nos cega de êxtase e ansiedade. Tão depressa o mundo se ilumina na vitória como se apaga na derrota. Não há um prazer verdadeiro nisto, só os derrotados pela vida podem esperar a ressurreição na roda da fortuna. Não há justiça na sorte e por isso as probabilidades são sempre favoráveis a quem aposta por necessidade, porque ninguém que viva pelo jogo merece ganhá-lo.

Algures na noite escura continuo a minha caminhada à chuva, com a bifurcação para trás, é agora indiferente qual a estrada que percorro. Preferi deixar cair o ponteiro e ser embalado pelo pêndulo. A riqueza chegará quando for merecida.


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