domingo, 8 de fevereiro de 2009

Mundo de Série Z

1. Grind House


A term used to describe a movie that sacrifices the traditional film-making concepts such as good acting, character development, production values, creative directing and an understandable plot outline in favor for sex, gore, nudity, violence and other shocking themes.
The term originates from the word used to describe theatres that were known to screen such movies.

No limiar das sombras esfacelado pela trémula lâmpada que balança para trás e para a frente, mesmo por cima da minha testa, acordo com uma Magnum 44 rudemente empurrada contra os dentes. Vamos trabalhar! - disse o pulha barbudo com o cabelo mais oleoso deste lado do rio. Ao levantar-me ouço um estalido viscoso vindo de dentro do colchão, indicando-me que mais uma barata nojenta se tinha esmagado entre as molas desse divã infestado de ácaros.

Os salpicos do robustamente graduado pequeno-almoço ardem-me nas feridas que povoam os dedos de mãos trabalhadoras, e o biltre que se chama meu colega espera impacientemente na decrépita ombreira da porta. Que lata tem este patife - pensei eu. Ainda cheira aos sovacos da porca da amante e tão cedo se faz de moralmente superior, ao apressar-me para o emprego.
Lá fora o pó e o lixo misturam-se com e a água da chuva, criando poças de uma substância, ora azulada, ora esverdeada que contrastam com o tom cinza dos mamarrachos de betão e aço que se erguem em redor. O mundo tornou-se um lugar feio para viver, em que não vale a pena ser o bom dia fita. Esse cargo, meus amigos, é uma agonia constante e corta como navalhas afiadas, sobra-me a solidão emergente da inadaptação a tão algoz realidade.

Por uma nuvem de fumo arrancamos no bólide que já serviu outros antes de nós, aliás, contando pelo tom amarelado das beatas que se encontram dispersadas pelo carro, digo, muitos outros antes de nós. A cidade avança connosco nesses caminhos mal iluminados à medida que nos aproximamos do seu âmago. Ninhos de ratos vivem lado a lado com outros parasitas bem maiores, é o território de traficantes, chulos e vigaristas. Começa a chover e, por entre o vai e vem do limpa pára-brisas vejo uma rapariga muito branca de cabelo escorrido e olhos azuis, na beira da estrada, prostituindo-se.

As gotas de água escorrem-lhe pela face, desmascarando as nódoas negras que se escondiam atrás da maquilhagem. Logo antes de pararmos, um sujeito mestiço, alto e encorpado agarra-a violentamente pelo braço e desaparecem para um beco inconspicúo. O sargento pára subitamente o veículo e saímos a pé, muito furtivamente, na direcção do referido beco. Percorrendo-o chegamos às escadas que apontam para a cave de um prédio, o som das máquinas adensa-se no ouvido e a vista procura ângulo pelo canto da porta entreaberta.

Lá dentro o rafeiroso, de calças em baixo, investe duramente contra rapariga que está, de quatro, deitada no chão. No instante que o meu colega lança o urro da autoridade, aquela reles desculpa para homem larga a moça e chega a mão ao bolso do casaco. Os pedaços de carne voam estilhaçando-se na parede e o solo cobre-se do encarnado do sangue. O sargento permanece impávido enquanto arruma o canhão, ainda fumegante, no coldre, junto ao peito e por debaixo da gabardina. A rapariga treme, nua, prostrada no chão frio, agora mergulhada num choque anafilático induzido pela droga de 2ª com que o sacana a injectou.

O mundo é feio, porco e muito mau. Por vezes digo a mim próprio, no meio destas depravações sórdidas, que nada disto é real. É um sonho, um filme de má qualidade. Quase que ouço as vozes: Meus senhores, Bem Vindos à violência! O projectista foca e desfoca, a película foi repetida até à exaustão e já acusa cortes. Isto é um filme de série Z e eu sou o censor, nada disto é real.

Às vezes digo para os meus botões que, hoje fiz a diferença, que hoje salvei uma vida. Mas a vida não pára e amanhã é outro dia, enquanto precisarem de mim estarei aqui, com coragem no peito e uma arma na mão, entre o Céu e o Inferno.

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