É um sonho uma mentira quando não se realiza?
No leito dos sonhos a realidade me tirou ao calor da escuridão, já aí senti o pano frio quando me trouxeste para dentro.
Quando as mãos se encontram e os corpos se juntam há faísca?
Que desconfiada és na tua incendiária personalidade e quão pérfido fui eu ao puxar a labareda, que por onde passou tudo despojou de vida.
Será “confiança” um palavrão a que só os mentirosos recorrem?
Debaixo da guilhotina tão séria parecias, com o canto da sereia estudado fiz eu de algoz carrasco, mas já há muito que se tinha ido o escalpe.
Onde estão agora tão belos escritos que te podia dedicar?
Já não sei, foram com as ondas do mar e com elas voltarão se eu deixar. Amargo me tornei e para muitos assim já o era, no entanto consigo sorrir ao teu lado, enfastiado de tão doce veneno.
Porquê despedir de quem não parte?
Porque a espada é a minha arte e recto fui ao dela falar-te, quando te encostei à parede e mostrei o mal.
Um cego recusa-se a ver?
Só para quem não quer saber, porque um cego é um cego e nós não fazemos caridade sem ponta de maldade.
Quem tem pena agora?
Quase de certeza devo ser eu (tu sabes no que isto deu).
E então? É mentira o sonho que não se concretiza?
E quem somos nós para matar a realidade?
Tu foste minha e eu fui teu, os dias passaram e hoje já nada aconteceu. A memória que eu vejo em sépia, vês tu por um caleidoscópio e dizes que é confusão. Pois enquanto sonhávamos te olhei e eras escarlate de paixão.