domingo, 31 de maio de 2009

Mors

E se eu for o assassino de que todos falam? Escondendo-se na noite, encrustado num canto escuro à espera. O negro capuz, que esconde uma persona fraca e apática, mostra a besta em toda a sua glória. Sem face, sem emoção e sem perdão possível ou desejável, vejo a sombra crescer.

A concentração foge para junto de Tânatos e deprime-se me o espírito à insignificancia da destruição que provoco. Já nada vale a pena, tudo é relativo e o fim permanece imutável. Tudo acaba, nada fica, resistindo efemeramente até ao derradeiro colapso.

A consciência comprime-se e Eros silencia-se. O tempo pára e ele já não envelhece. A sua essência, guardo-a agora comigo, ainda que não a queira. Deprime-me a superficialidade da vida. Ele era culto, bondoso e estudioso. Não, não era. Era dispensável.

Eu não sou o escuro em que habito, não sou o pulsar de ferro que te corta a respiração, nem tão pouco o medo que sentes no meu bafejar. Vê-me no que desapareceu, sente-me na saudade, ouve-me no eco do vazio e conhece-me antes de me manifestar, porque mesmo que não seja, existo. Para te levar.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

No Alpendre

Como será? Quando chegares e eu já tiver toda uma vida à tua espera. Vem passear nas nuvens que fui soprando para perto de nós. Bebe desta água que logo eu te seguirei. Vais esperar por mim nos degraus da tua vida? Enquanto te seguro na ânsia e na surpresa do pequeno mundo já feito para ti… quem quer que sejas.

Essa irritação nota-se no subtil rubor da tua face enquanto me censuras em silêncio. Pacientemente, condescendendo à minha excentricidade, imaginas como seria se tivesses toda uma vida à tua espera, só e para ti. Deixa-me falar mais um pouco, em propriedade, do que conheço de nós. Não me apagues já.

No sopro de um fósforo a faísca se perdeu para as labaredas que fui soprando para perto de nós. Chamaste por água, e nos degraus da minha vida te vi apagar o nosso mundo. Estridente, perguntaste-me quem sou eu e o que nos espera. Deixa-me, impõe-te, mostrando a tua face fugidia e segura. Assim, me contaste como foi, porque eu estava, absorto nos sonhos que tinha para ti, só e à tua espera.