sábado, 31 de maio de 2008

Natureza Cristalina

Forte é o vento que me canta ao ouvido e me navega pela teia da informação. Prende-me a atenção um texto escrito por mim em Setembro de 2007, qual narcisista inveterado, sinto o orgulho secreto de ver aquele pedaço de escrita ao lado de outros mais recentes, quase como se pudesse ter sido escrito ontem sem que ninguém o notasse. Mas, eu notava… porque era uma pessoa diferente, tinha objectivos definidos e os obstáculos resvalavam na couraça que era a minha segunda pele.

É curioso que como as maiores mudanças podem ocorrer numa fracção de tempo ínfima, caindo por terra toda a edificação que ficou para trás. As minhas defesas se foram perdendo no silêncio que gritava a tua personalidade e os teus olhos fizeram minha a tua mágoa, que é a de quem espreita pelo parapeito da alma sem nunca passar da porta. Uma ave rara de plumas de cristal é admirada por muitos que julgam ver-lhe a transparência, ainda que atrás a realidade seja distorcida. Néscio fui eu em pensar que te podia fazer cantar ao meu toque e agora que partiste mais que uma pena não compreendo porque foges. Imagino apenas o receio de uma ave de vidro ao se desfazer pela força do seu canto…


Recuando ainda mais para o passado recordo a ambição de me ver livre de laços emocionais. São o tipo de pensamentos mesquinhos que tão depressa nos deixam voar bem alto como logo depois nos queimam as asas. Vários anos mais tarde observo que escapei a essa visão, porque por muito que tenha tentado não consigo ver-te na indiferença. Talvez seja essa a nossa natureza, pelo facto de voltarmos à vida cada vez que nos deixamos consumir pela nossa chama interior.